sábado, 26 de junho de 2010

Submundo


Hoje por um acaso do destino, encontrei o submundo. ou seria um mundo superior. Digo isso no sentido literal de estar acima dos outros mundos. É um lugar de escadarias, pessoas entram e saem o tempo todo, mais especificamente homens em busca de sexo barato.
São muitas e muitas escadarias que levam a andares diversos com quartos iluminados por uma luz vermelha, cheiro de incenso barato, barulho de ventilador e gemidos.
Filas nas portas de certos quartos, mulheres nuas te chamando. Idosos, adolescentes, adultos diversos, em busca do prazer.
Não me senti estranho ali, não me senti mal, não fiquei olhando com desdém o lugar ou das pessoas - as que trabalham e as que adquirem o serviço. Somos nós ali, todos nós em algum momento da vida, porém, ali de forma explícita, um buscando sexo o outro oferecendo.
Somo assim... vivemos no submundo e as vezes, buscamos os mundos superiores das escadarias de metal barulhentas olhando de porta em porta quem naquele momento irá satisfazer nossas animalescas necessidades sexuais.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

amor que sufoca


...aqui estou, tentando sobreviver sob a pressão de um compromisso. Não é um relacionamento ruim, pelo contrário, é inclusive bom demais. Porém, por ser tão bom tornou-se um pouco enfadonho.
há um excesso de zelo e uma profusão de sentimentos que volta e meia transbordam o peito, e claro, falta ar, sufoca. Tamanha preocupação tolhe a liberdade...
talvez essa seja a parte chata de um compromisso, ser obrigado a aceitar uma "pseudo-liberdade", pois nada pode ser decidido sozinho, tudo depende da opinião do outro.
você apenas escolhe, mas precisa do voto a favor para que a escolha se concretize. Além disso, tem uma questão de peso nas costas sobre o que fazer com um futuro a dois, já que quando era somente você, as decisões sobre algo tão além eram simples.
amar é bom, mas o amor sufoca... na tentativa de libertar o outro, a gente acaba prendendo-o ainda mais, tal qual nos prendem também.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

muitas chaves


...tenho várias chaves, muitas mesmo. Recebi algumas quando me mudei e outras quando comecei a trabalhar, fora as que já tinha comigo e que carrego desde que saí do lugar de origem.
são chaves que não abrem nada, na verdade elas apenas trancam. Trancam meu eu verdadeiro entre as paredes pálidas de um verde quase desfalecido, dando os últimos suspiros de vida, insuportável em si mesmo por sua monótona perfeição.
trancam-me na rua para que todos os lugares sejam propriedade de alguém e eu entenda que não os posso transpor.
carrego-as comigo o tempo inteiro, como se fossem mais parte de mim do que meus próprios membros. Se não as tenho, é como se não tivesse lugar nenhum, mas se as tenho, preciso manter meus lugares trancados pois, senão alguém os tirará de mim - pelo menos em parte.
então, se para conseguir enganar a mim mesmo com esse sentimento de pertecimento, de "dono" de algum coisa, preciso sempre delas e tenho então que aceitar que o que me pertence não é o lugar, mas as chaves fétidas e barulhentas que carrego sempre em algum canto e com cuidado para não ficar trancado no mundo lá fora...