quarta-feira, 16 de junho de 2010

muitas chaves


...tenho várias chaves, muitas mesmo. Recebi algumas quando me mudei e outras quando comecei a trabalhar, fora as que já tinha comigo e que carrego desde que saí do lugar de origem.
são chaves que não abrem nada, na verdade elas apenas trancam. Trancam meu eu verdadeiro entre as paredes pálidas de um verde quase desfalecido, dando os últimos suspiros de vida, insuportável em si mesmo por sua monótona perfeição.
trancam-me na rua para que todos os lugares sejam propriedade de alguém e eu entenda que não os posso transpor.
carrego-as comigo o tempo inteiro, como se fossem mais parte de mim do que meus próprios membros. Se não as tenho, é como se não tivesse lugar nenhum, mas se as tenho, preciso manter meus lugares trancados pois, senão alguém os tirará de mim - pelo menos em parte.
então, se para conseguir enganar a mim mesmo com esse sentimento de pertecimento, de "dono" de algum coisa, preciso sempre delas e tenho então que aceitar que o que me pertence não é o lugar, mas as chaves fétidas e barulhentas que carrego sempre em algum canto e com cuidado para não ficar trancado no mundo lá fora...

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